Sempre que vejo
outro beijo que não o meu,
destes cada vez mais raros,
parece que perco algo entre
aqueles dois perdidos.
Um pedaço de lingua,
uma saliva de salvação.
Veja, Caio:
Há muitos
Não devem ser todos juntos
Não podem ter todos par
Não ousam querer o mesmo!
(- Ousam?)
Todos colados
Em fileiras simetricamente desalinhadas
Filas que se beijam em dois espelhos frente a frente
Sem um que o valha
Sem um que me seja
Sem um que procure nestes dias azuis
Um’outra solidão igual a sua
Pra na matemática sem sentido do amor
Faça somar as dores e haver menos dor de resultado.
Pra fazer menos sofrido esse nosso acordar deste sono de ser só que nunca passa.
(- O eterno bocejo)
A cada passo, Caio,
Vejo menos gente ao meu redor
(- Algum dia estiveram contigo?)
A cada tropeço, Caio,
Menos tensiono-me a levantar.
(- E se for, afinal, o chão o que tens de beijar?)