O país tem assistido a uma violência sem par contra um grupo minoritário, como há muito não era visto. A Avenida Paulista, um dos espaços mais gay friendly da Cidade de São Paulo, tem sido palco de agressões sistemáticas contra homossexuais: seis nos últimos dois meses. Crimes de ódio, atos de intolerância contra a diversidade de orientações e identidades sexuais, baseados em pura ignorância e desinformação. Claramente, crimes de homofobia. A clareza que sobra nas intenções dos agressores, falta nos veículos de comunicação de massa brasileiros, que parecem desconhecer o termo ‘homofobia’, e preferem tratar as agressões como ‘violência contra homossexuais’, em uma comparação tácita com a ‘violência contra heterossexuais’. E isto tudo tem explicação: tentar desmobilizar a militância LGBT e tirar o problema da homofobia da pauta cotidiana das pessoas.
Com exceção de matérias ocasionais, na Band, SBT e Record, a palavra homofobia não é citada quando crimes de ódio contra homossexuais são noticiados. Tratamento diferente da cobertura jornalística feita quando uma estudante de direito, revoltada com o resultado das eleições deste ano, incitou a violência contra nordestinos. Nestas matérias, a palavra xenofobia era corriqueira: psicólogos, psiquiatras, defensores dos direitos humanos, advogados e outras tantas categorias foram consultadas, falando sobre as causas e soluções para o preconceito contra nordestinos e outros regionalismos que ainda são muito comuns. Matérias profundas, educativas, que ajudam a trazer o tema para o debate da sociedade, que desentocam os intolerantes que se sentem autorizados a odiar, que constroem a pauta cotidiana. Ou seja, jornalismo de verdade.
No caso das agressões contra os homossexuais, e que, como foram físicas e reais, podem ser consideradas mais graves do que a incitação ao ódio contra os nordestinos, receberam tratamento asséptico: poucas palavras, poucos segundos, entrevista rápida com delegado, entrevista rápida com quem foi agredido. Nenhuma referencia a homofobia. Nenhuma referencia as leis que tramitam no congresso e que visam combater e punir crimes com a mesma natureza. Nenhuma informação sobre os projetos contra a homofobia realizados por ONGs e instituições Brasil a fora, que formam brasileiros para o convívio com a diversidade. Nada. Uma agressão como outra qualquer, ‘contra gays’, assim como as que acontecem contra heterossexuais.
A invisibilidade da militância LGBT e das demandas que tocam a mesma tem por finalidade a desmobilização. Hoje, a televisão está presente em mais de 90% dos lares brasileiros. Atinge diariamente mais de 100 milhões de brasileiros, que usam a TV como espelho pro seu próprio mundo, pautando suas conversas cotidianas e trazendo para as discussões da sociedade os assuntos que bem entende. Por conta do conservadorismo de parte de nossa imprensa, assuntos que precisavam entrar nas conversas cotidianas, como a discriminação contra homossexuais, a intolerância, a violência (física ou psicologia) contra os LGBT, o bullying homofóbico que jovens gays e lésbicas sofrem nas escolas, e soluções para todos estes problemas. Mas não é isso o que acontece, e continuamos invisíveis.
Muitos acham que a cobrança pelo uso do termo é preciosismo. Não é. O uso do termo homofobia é necessário para que as pessoas saibam que ela, a homofobia, existe, é mais comum do que se imagina, e mata, sem dó nem piedade. Nas últimas matérias da TV Globo sobre as agressões na Avenida Paulista denota o total falta de comprometimento da emissora em discutir o assunto. Dizer que os atentados foram ‘violência contra gays’, como foi dito nas matérias, descaracteriza a intenção do crime. Não foram ‘agressões contra gays’ assim como seriam ‘agressões contra heteros’. Os crimes têm motivação e esta motivação é o ódio contra LGBTs, e isto tem de ficar claro em todos os lugares onde os crimes são citados.
Lutar para ganhar espaço na mídia, seja a na ‘grande’ imprensa ou em meios alternativos, é um dos desafios do movimento gay. Assim podemos debater a entrada de fundamentalistas religiosos tentando extirpar a laicidade do estado e pregando contra os direitos humanos e dos homossexuais. Podemos debater formas de eliminar a intolerância que ainda exclui, discrimina e mata milhares de homossexuais, pra que um dia, quando nada disso existir, possamos falar tranquilamente sobre qualquer outra coisa.
Eu vivo discutindo sobre palavras. Por ser professora de literatura eu sei o peso que elas tem. Uma palavra não é um conjunto de letras, mas tem todo um sentido e uma carga emocional por trás. Uma das origens do termo viado por exemplo, é a palavra transviado, o que denota o sentido de algo errado e fora do curso. Não é a toa que é usada pejorativamente. O grupo social criar significados próprios.
ResponderExcluirNo caso da homofobia, um dos motivos para não usar é vender a falsa noção que homofobia é só matar gays. É ter medo ou ojeriza capaz de assassinar. Sim homofobia é isso. Mas não e SÓ isso. É muito mais.
Como eu costumo dizer se o preconceito é contra negros é racismo. Se é contra estrangeiros é xenofobia. É preconceito contra LGBTs? Então é homofobia, amiguinho. Chega de querer liberdade de expressão pra falar besteira e não querer o rótulo que lhe compete quando a fala.
Perfeito texto! Não podemos parar de bater nessa tecla.
Concordo que é preciso dar nome aos bois!
ResponderExcluirTe deixo uma pergunta:"por que o movimento lgbt é tão invisível?"
Eu tenho minha suposição...
Eu diria desarticulado ao invés de invisível, pois é inegável que a questão tenha vindo mais a tona ultimamente, porém de forma completamenta fora do alvo, e songeado informações que auxiliariam na claridicação de idéias, como coloca bem o texto. Will to virando fã de tuas matérias, parabéns de novo!
ResponderExcluirWilliam, acho que nesta discordo um pouquinho. Ao menos no "SPTV" e no "Bom Dia, Brasil", ambos da Rede Globo, vi os apresentadores usando, sim, várias vezes a palavra "homofobia". Aliás, tendo a achar que essa palavra, mesmo sendo nova, (uns l5 anos que a ouço, um pouco mais...) é um grande sucesso e foi inserida, sim, no contexto midiático e cotidiano.
ResponderExcluirPenso o seguinte e sei que minha forma de pensar é polêmica, mas vamos lá: Acho que o que corrompeu, roubou e estragou todo o Movimento LGBT foi o partidarismo e os partidaristas. Roubaram toda a autonomia e deixaram o movimento de rabo preso com partidos e presidentes sorridentes , mas que nada fizeram ou fazem. Mesmo para militos "lideres" e militantes não interessa o fim da homofobia por que, sem ela, não teriam como sobreviver, até por que não são nada criativos. Dependem da homofobia em vigor para justificarem suas ong's; cargos; salários e benefícios, viagens, PTA's, em inúmeras "conferências' pelo Brasil afora... nossos irmãos latinos já aprovaram um monte de coisas em favor da população LGBT, sem tanta falação nem gastos de dinheiro público, seu dinheiro e meu dinheiro... conheci militantes que vendem a mãe, de tão corruptos. São eles, não a Rede Globo, os culpados por nada avançar. Preocupados em interagirem somente com seus partidos, esqueceram das beses e das pessoas LGBT, bem como se esqueceram do diálogo com a mídia, acham que não interessa, desde que uma próxima palestra ou evento esteja garantido.
Por isso, acredito que nossa luta precisa renascer e se reinventar, lembrando sempre de Stonewall, que não dependeu de nada, nem de partidos nem da mídia e fez História.
Abraços,
Ricardo
aguieiras2002@yahoo.com.br
Romanos 1.26-27 - Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro.
ResponderExcluirA linha de compreensão interpretacional do ensejo de caracterização motivacional homofóbico da agressão foi desconstruído por certo, propositalmente e a linha noticiarista descontextualizada da essencialidade do noticiário para desfigurar VERGONHOSA E manipulativamente a natureza real que motivou o crime.O post é perfeito porque nos apresenta exatamente isso que ocorreu é imperioso falar que houve uma agressão a homossexuais porém sem mencionar que houve motivação homofóbica por trás da agressão para suavizar o entendimento das pessoas quanto ao cunho preconceituoso da mesma.Imprensa parcial.VEXAME.
ResponderExcluirAção democrática legitima (a de afirmar que os homossexuais são perseguidos) de pessoas de grande habilidade de Mídia; a qual cito no Blog que vou sugerir no seguimento para conhecimento e avaliação.
ResponderExcluirQuando digo grande habilidade no saber como tratar Notícias e Informações; isto decorre do fato da maneira ruidosa e coerente como conseguem transformar um fato (lamentável é claro) em um factóide (fato maximizado, ampliado acima da sua real razão de ser) de grande repercussão, como é feito diversas vezes que ocorre algum tipo de agressão a homossexuais; cujos números estão muito aquém das agressões contra a mulher e as mútuas entre torcedores, pelo fato fútil de serem torcedores de Times diferentes... Comento isto aqui como elogio à forma inteligente como os homossexuais trabalham os Meios de Comunicação, reproduzindo aqui e ali elementos de Merchandising para aprovar o PLC 122.
É estranho e difícil para eu entender como os homossexuais e a Mídia que têm dentro da sua comunidade ─ hoje e no decorrer da história ─ pessoas inteligentes semelhantes aos filósofos gregos homossexuais: o grande retórico Lísias e o inteligentíssimo Aristófanes, autor do Mito do Andrógino, ver, obra O Banquete da Platão ─; também artistas, intelectuais, pessoas de várias formações acadêmicas e principalmente as da área das Letras; não atentem para o que chamo de estupidez lingüística, que é o chavão acusativo HOMOFÓBICO (de homo-fobia), sabendo-se que homo (latim, homem), homo (grego; igual, semelhante; que é usado em homofobia) e fobia (grego, φόβος ─ medo com decorrente ação retro-ativa de fugir). Do que se conclui que: ao chamarmos alguém de homofóbico estaremos dizendo exatamente ser aquele que tem o sentimento de medo (fobia) a vítima desse (o criminoso no exato entendimento do termo) que lhe infunde medo.
Não tenho nada absolutamente nada contra os reais direitos dos homossexuais; entretanto tenho tudo contra O PLC 122 OU A DITA LEI HOMOFÓBICA (este é o título do meu Blog), cujo endereço é www.verdaderespeitoejustica.blogspot.com , no qual, demonstro ser esta lei, não aquilo que defende os direitos dos homossexuais e sim, um odioso instrumento de Censura; como também está de maneira sintética (sinopse) em outro Blog meu, endereço www.sinteserespeitoejustica.blogspot.com .
P.S.: Apenas para reforçar como lembrete e gerar interesse ou curiosidade com relação ao Blog citado. CLAUSTRO + FOBIA, FOTO + FOBIA e algumas outras fobias têm plena assertiva nas suas construções, pelo fato óbvio de que quem está enclausurado ou diante de uma forte luz, desesperadamente busca fugir. O que aconteceu com as pessoas que têm conhecimento lingüístico? E o bom senso, o que foi feito dele (no não haver cuidado com o que se escreve e veicula), quando se mantêm o absurdo chavão chamado HOMOFOBIA, que é exatamente contra aquilo que se quer defender?.. Obrigado e parabéns pela dignidade democrática de respeitar opiniões.
Atenciosamente JORGE VIDAL