sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Homofobia: uma palavra que muda tudo

O país tem assistido a uma violência sem par contra um grupo minoritário, como há muito não era visto. A Avenida Paulista, um dos espaços mais gay friendly da Cidade de São Paulo, tem sido palco de agressões sistemáticas contra homossexuais: seis nos últimos dois meses. Crimes de ódio, atos de intolerância contra a diversidade de orientações e identidades sexuais, baseados em pura ignorância e desinformação. Claramente, crimes de homofobia. A clareza que sobra nas intenções dos agressores, falta nos veículos de comunicação de massa brasileiros, que parecem desconhecer o termo ‘homofobia’, e preferem tratar as agressões como ‘violência contra homossexuais’, em uma comparação tácita com a ‘violência contra heterossexuais’. E isto tudo tem explicação: tentar desmobilizar a militância LGBT e tirar o problema da homofobia da pauta cotidiana das pessoas.

Com exceção de matérias ocasionais, na Band, SBT e Record, a palavra homofobia não é citada quando crimes de ódio contra homossexuais são noticiados. Tratamento diferente da cobertura jornalística feita quando uma estudante de direito, revoltada com o resultado das eleições deste ano, incitou a violência contra nordestinos. Nestas matérias, a palavra xenofobia era corriqueira: psicólogos, psiquiatras, defensores dos direitos humanos, advogados e outras tantas categorias foram consultadas, falando sobre as causas e soluções para o preconceito contra nordestinos e outros regionalismos que ainda são muito comuns. Matérias profundas, educativas, que ajudam a trazer o tema para o debate da sociedade, que desentocam os intolerantes que se sentem autorizados a odiar, que constroem a pauta cotidiana. Ou seja, jornalismo de verdade.

No caso das agressões contra os homossexuais, e que, como foram físicas e reais, podem ser consideradas mais graves do que a incitação ao ódio contra os nordestinos, receberam tratamento asséptico: poucas palavras, poucos segundos, entrevista rápida com delegado, entrevista rápida com quem foi agredido. Nenhuma referencia a homofobia. Nenhuma referencia as leis que tramitam no congresso e que visam combater e punir crimes com a mesma natureza. Nenhuma informação sobre os projetos contra a homofobia realizados por ONGs e instituições Brasil a fora, que formam brasileiros para o convívio com a diversidade. Nada. Uma agressão como outra qualquer, ‘contra gays’, assim como as que acontecem contra heterossexuais.

A invisibilidade da militância LGBT e das demandas que tocam a mesma tem por finalidade a desmobilização. Hoje, a televisão está presente em mais de 90% dos lares brasileiros. Atinge diariamente mais de 100 milhões de brasileiros, que usam a TV como espelho pro seu próprio mundo, pautando suas conversas cotidianas e trazendo para as discussões da sociedade os assuntos que bem entende. Por conta do conservadorismo de parte de nossa imprensa, assuntos que precisavam entrar nas conversas cotidianas, como a discriminação contra homossexuais, a intolerância, a violência (física ou psicologia) contra os LGBT, o bullying homofóbico que jovens gays e lésbicas sofrem nas escolas, e soluções para todos estes problemas. Mas não é isso o que acontece, e continuamos invisíveis.

Muitos acham que a cobrança pelo uso do termo é preciosismo. Não é. O uso do termo homofobia é necessário para que as pessoas saibam que ela, a homofobia, existe, é mais comum do que se imagina, e mata, sem dó nem piedade. Nas últimas matérias da TV Globo sobre as agressões na Avenida Paulista denota o total falta de comprometimento da emissora em discutir o assunto. Dizer que os atentados foram ‘violência contra gays’, como foi dito nas matérias, descaracteriza a intenção do crime. Não foram ‘agressões contra gays’ assim como seriam ‘agressões contra heteros’. Os crimes têm motivação e esta motivação é o ódio contra LGBTs, e isto tem de ficar claro em todos os lugares onde os crimes são citados.

Lutar para ganhar espaço na mídia, seja a na ‘grande’ imprensa ou em meios alternativos, é um dos desafios do movimento gay. Assim podemos debater a entrada de fundamentalistas religiosos tentando extirpar a laicidade do estado e pregando contra os direitos humanos e dos homossexuais. Podemos debater formas de eliminar a intolerância que ainda exclui, discrimina e mata milhares de homossexuais, pra que um dia, quando nada disso existir, possamos falar tranquilamente sobre qualquer outra coisa.

7 comentários:

  1. Eu vivo discutindo sobre palavras. Por ser professora de literatura eu sei o peso que elas tem. Uma palavra não é um conjunto de letras, mas tem todo um sentido e uma carga emocional por trás. Uma das origens do termo viado por exemplo, é a palavra transviado, o que denota o sentido de algo errado e fora do curso. Não é a toa que é usada pejorativamente. O grupo social criar significados próprios.
    No caso da homofobia, um dos motivos para não usar é vender a falsa noção que homofobia é só matar gays. É ter medo ou ojeriza capaz de assassinar. Sim homofobia é isso. Mas não e SÓ isso. É muito mais.
    Como eu costumo dizer se o preconceito é contra negros é racismo. Se é contra estrangeiros é xenofobia. É preconceito contra LGBTs? Então é homofobia, amiguinho. Chega de querer liberdade de expressão pra falar besteira e não querer o rótulo que lhe compete quando a fala.
    Perfeito texto! Não podemos parar de bater nessa tecla.

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  2. Concordo que é preciso dar nome aos bois!
    Te deixo uma pergunta:"por que o movimento lgbt é tão invisível?"
    Eu tenho minha suposição...

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  3. Eu diria desarticulado ao invés de invisível, pois é inegável que a questão tenha vindo mais a tona ultimamente, porém de forma completamenta fora do alvo, e songeado informações que auxiliariam na claridicação de idéias, como coloca bem o texto. Will to virando fã de tuas matérias, parabéns de novo!

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  4. William, acho que nesta discordo um pouquinho. Ao menos no "SPTV" e no "Bom Dia, Brasil", ambos da Rede Globo, vi os apresentadores usando, sim, várias vezes a palavra "homofobia". Aliás, tendo a achar que essa palavra, mesmo sendo nova, (uns l5 anos que a ouço, um pouco mais...) é um grande sucesso e foi inserida, sim, no contexto midiático e cotidiano.
    Penso o seguinte e sei que minha forma de pensar é polêmica, mas vamos lá: Acho que o que corrompeu, roubou e estragou todo o Movimento LGBT foi o partidarismo e os partidaristas. Roubaram toda a autonomia e deixaram o movimento de rabo preso com partidos e presidentes sorridentes , mas que nada fizeram ou fazem. Mesmo para militos "lideres" e militantes não interessa o fim da homofobia por que, sem ela, não teriam como sobreviver, até por que não são nada criativos. Dependem da homofobia em vigor para justificarem suas ong's; cargos; salários e benefícios, viagens, PTA's, em inúmeras "conferências' pelo Brasil afora... nossos irmãos latinos já aprovaram um monte de coisas em favor da população LGBT, sem tanta falação nem gastos de dinheiro público, seu dinheiro e meu dinheiro... conheci militantes que vendem a mãe, de tão corruptos. São eles, não a Rede Globo, os culpados por nada avançar. Preocupados em interagirem somente com seus partidos, esqueceram das beses e das pessoas LGBT, bem como se esqueceram do diálogo com a mídia, acham que não interessa, desde que uma próxima palestra ou evento esteja garantido.
    Por isso, acredito que nossa luta precisa renascer e se reinventar, lembrando sempre de Stonewall, que não dependeu de nada, nem de partidos nem da mídia e fez História.
    Abraços,
    Ricardo
    aguieiras2002@yahoo.com.br

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  5. Romanos 1.26-27 - Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro.

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  6. A linha de compreensão interpretacional do ensejo de caracterização motivacional homofóbico da agressão foi desconstruído por certo, propositalmente e a linha noticiarista descontextualizada da essencialidade do noticiário para desfigurar VERGONHOSA E manipulativamente a natureza real que motivou o crime.O post é perfeito porque nos apresenta exatamente isso que ocorreu é imperioso falar que houve uma agressão a homossexuais porém sem mencionar que houve motivação homofóbica por trás da agressão para suavizar o entendimento das pessoas quanto ao cunho preconceituoso da mesma.Imprensa parcial.VEXAME.

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  7. Ação democrática legitima (a de afirmar que os homossexuais são perseguidos) de pessoas de grande habilidade de Mídia; a qual cito no Blog que vou sugerir no seguimento para conhecimento e avaliação.
    Quando digo grande habilidade no saber como tratar Notícias e Informações; isto decorre do fato da maneira ruidosa e coerente como conseguem transformar um fato (lamentável é claro) em um factóide (fato maximizado, ampliado acima da sua real razão de ser) de grande repercussão, como é feito diversas vezes que ocorre algum tipo de agressão a homossexuais; cujos números estão muito aquém das agressões contra a mulher e as mútuas entre torcedores, pelo fato fútil de serem torcedores de Times diferentes... Comento isto aqui como elogio à forma inteligente como os homossexuais trabalham os Meios de Comunicação, reproduzindo aqui e ali elementos de Merchandising para aprovar o PLC 122.
    É estranho e difícil para eu entender como os homossexuais e a Mídia que têm dentro da sua comunidade ─ hoje e no decorrer da história ─ pessoas inteligentes semelhantes aos filósofos gregos homossexuais: o grande retórico Lísias e o inteligentíssimo Aristófanes, autor do Mito do Andrógino, ver, obra O Banquete da Platão ─; também artistas, intelectuais, pessoas de várias formações acadêmicas e principalmente as da área das Letras; não atentem para o que chamo de estupidez lingüística, que é o chavão acusativo HOMOFÓBICO (de homo-fobia), sabendo-se que homo (latim, homem), homo (grego; igual, semelhante; que é usado em homofobia) e fobia (grego, φόβος ─ medo com decorrente ação retro-ativa de fugir). Do que se conclui que: ao chamarmos alguém de homofóbico estaremos dizendo exatamente ser aquele que tem o sentimento de medo (fobia) a vítima desse (o criminoso no exato entendimento do termo) que lhe infunde medo.
    Não tenho nada absolutamente nada contra os reais direitos dos homossexuais; entretanto tenho tudo contra O PLC 122 OU A DITA LEI HOMOFÓBICA (este é o título do meu Blog), cujo endereço é www.verdaderespeitoejustica.blogspot.com , no qual, demonstro ser esta lei, não aquilo que defende os direitos dos homossexuais e sim, um odioso instrumento de Censura; como também está de maneira sintética (sinopse) em outro Blog meu, endereço  www.sinteserespeitoejustica.blogspot.com .
    P.S.: Apenas para reforçar como lembrete e gerar interesse ou curiosidade com relação ao Blog citado. CLAUSTRO + FOBIA, FOTO + FOBIA e algumas outras fobias têm plena assertiva nas suas construções, pelo fato óbvio de que quem está enclausurado ou diante de uma forte luz, desesperadamente busca fugir. O que aconteceu com as pessoas que têm conhecimento lingüístico? E o bom senso, o que foi feito dele (no não haver cuidado com o que se escreve e veicula), quando se mantêm o absurdo chavão chamado HOMOFOBIA, que é exatamente contra aquilo que se quer defender?.. Obrigado e parabéns pela dignidade democrática de respeitar opiniões.
    Atenciosamente JORGE VIDAL

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