Eu tropeço no acaso assim que saio de casa.
Fecho a porta e deixo tudo que é meu,
inclusive eu,
trancado lá dentro,
mal deixando sair o vento.
Sento na rua,
bem na calçada,
onde toda gente passa,
e ninguém me vê.
Mas não me sinto só,
pois mesmo sem ser visto,
reviso o que em mim sobra,
e disso ergo a obra que me reconstrói.
Ali na rua mesmo,
bem na calçada.
Só eu e o nada.
Aos olhos desavisados,
desses que passam por passar,
nada pareço que não outro como os demais,
destes que sentam na calçada,
sem saber o que há de bom por lá.
Rio, pois são cegos todos que na calçada passam,
e não vêem que ali não é lugar de passagem,
mas é lugar de paragem, de se estar.
Mas também não daqueles que fica na janela, mirando pelos cantos, olhando com espanto, e por medo de que fora de casa, que na sarjeta, se sinta mais em casa, nada faz, e pensa que tudo passa.
Pobre coitado, nem sabe que só a felicidade passa, assim como toda a gente passa, e ninguém vê.
Mas eu não me importo com quem me olha da janela, com quem me olha da calçada, com quem me da risada, com o que me faz sonhar.
Eu me importo com a janela aberta sem saber por que, que deixa tudo entrar menos o que não vê.
O homem pensa que a janela lhe deixa ver o mundo.
Bobagem.
A janela é um engenho do mundo pra entrar onde bem quiser.
E a calçada é um engenho do homem que não tem utilidade alguma.
Exceto de ser lugar de sentar para escrever poemas.
Eu sou aquele que está sentado na calçada também, do outro lado da rua, olhando as pessoas sentadas na calçada da frente, com seus caderninhos e anotações e pensamentos. :)
ResponderExcluirparabéns pelo texto.
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