terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

- O Tropeço do Acaso.

Eu tropeço no acaso assim que saio de casa.
Fecho a porta e deixo tudo que é meu,
inclusive eu,
trancado lá dentro,
mal deixando sair o vento.

Sento na rua,
bem na calçada,
onde toda gente passa,
e ninguém me vê.

Mas não me sinto só,
pois mesmo sem ser visto,
reviso o que em mim sobra,
e disso ergo a obra que me reconstrói.

Ali na rua mesmo,
bem na calçada.

Só eu e o nada.

Aos olhos desavisados,
desses que passam por passar,
nada pareço que não outro como os demais,
destes que sentam na calçada,
sem saber o que há de bom por lá.

Rio, pois são cegos todos que na calçada passam,
e não vêem que ali não é lugar de passagem,
mas é lugar de paragem, de se estar.

Mas também não daqueles que fica na janela, mirando pelos cantos, olhando com espanto, e por medo de que fora de casa, que na sarjeta, se sinta mais em casa, nada faz, e pensa que tudo passa.

Pobre coitado, nem sabe que só a felicidade passa, assim como toda a gente passa, e ninguém vê.

Mas eu não me importo com quem me olha da janela, com quem me olha da calçada, com quem me da risada, com o que me faz sonhar.

Eu me importo com a janela aberta sem saber por que, que deixa tudo entrar menos o que não vê.

O homem pensa que a janela lhe deixa ver o mundo.
Bobagem.

A janela é um engenho do mundo pra entrar onde bem quiser.
E a calçada é um engenho do homem que não tem utilidade alguma.
Exceto de ser lugar de sentar para escrever poemas.

2 comentários:

  1. Eu sou aquele que está sentado na calçada também, do outro lado da rua, olhando as pessoas sentadas na calçada da frente, com seus caderninhos e anotações e pensamentos. :)

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