sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

- Ludov - Kriptonita


(Ludov - Kriptonita)

- Como eu mato você?

Como eu faço pra arrancar tudo de uma vez?
Como eu faço pra tirar os pequenos pedaços das raízes
que ficaram entranhadas no chão árido do meu peito?
Como eu limpo a terra, como eu me liberto de uma vez?

Tenho de matar você pra matar isso em mim?
Tenho de me matar pra matar isso em mim?

Tenho de plantar alguma outra coisa no lugar,
pra que as palavras e as sementes sumam,
e fique na parte da memória que lhes cabe?

São perguntas demais,
e dedos tocandos meus cabelos de menos.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

- Eu tentei.

Eu tentei.
Sério.
Convidei uma amiga para ir em uma balada comigo.
Já que eu nunca penso em ir em baladas,
e estou tentando mudar minhas atitudes em relação as coisas,
pensei, indo pra casa, que poderia ser legau.

Minha amiga desistiu,
mesmo assim, fui sozinho.

Entrei,
e vi o que sempre vi,
só que havia esquecido.

Fiquei uns 30 minutos lá dentro,
e voltei pra casa.

Acho que cansei.
Cansei de tudo isso.
De verdade.

Vou avaliar as outras opções.
E logo saberei o que fazer.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

- Velório Perfeito.

Aspergir as cinzas dos retratos das paisagens que nunca visitei sobre meu corpo;

Colocar os anéis de compromisso que não tive em meus dedos, todos os mil;

Pentear meus cabelos como no casamento que não consagrei, como no nascimento de meus filhos abortados;

Resgatar os segredos das cartas de amor velhas e amassadas, e recita-las para os presentes ao velório;

Cuspir sobre meu corpo pela vergonha de tê-lo;

Me olhar com desdém como sempre o fizeram;

Agora nada Muda.


Sigam meus conselhos.

Para o meu velório perfeito.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

- Se te Queres.

Se te queres matar, por que não te queres matar?
Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida,
Se ousasse matar-me, também me mataria...
Ah, se ousares, ousa!
De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas
A que chamamos o mundo?
A cinematografia das horas representadas
Por atores de convenções e poses determinadas,
O circo policromo do nosso dinamismo sem fím?
De que te serve o teu mundo interior que desconheces?
Talvez, matando-te, o conheças finalmente...
Talvez, acabando, comeces...
E, de qualquer forma, se te cansa seres,
Ah, cansa-te nobremente,
E não cantes, como eu, a vida por bebedeira,
Não saúdes como eu a morte em literatura!

Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém...
Sem ti correrá tudo sem ti.
Talvez seja pior para outros existires que matares-te...
Talvez peses mais durando, que deixando de durar...

A mágoa dos outros?... Tens remorso adiantado
De que te chorem?
Descansa: pouco te chorarão...
O impulso vital apaga as lágrimas pouco a pouco,
Quando não são de coisas nossas,
Quando são do que acontece aos outros, sobretudo a morte,
Porque é coisa depois da qual nada acontece aos outros...

Primeiro é a angústia, a surpresa da vinda
Do mistério e da falta da tua vida falada...
Depois o horror do caixão visível e material,
E os homens de preto que exercem a profissão de estar ali.
Depois a família a velar, inconsolável e contando anedotas,
Lamentando a pena de teres morrido,
E tu mera causa ocasional daquela carpidação,
Tu verdadeiramente morto, muito mais morto que calculas...
Muito mais morto aqui que calculas,
Mesmo que estejas muito mais vivo além...
Depois a trágica retirada para o jazigo ou a cova,
E depois o princípio da morte da tua memória.
Há primeiro em todos um alívio
Da tragédia um pouco maçadora de teres morrido...
Depois a conversa aligeira-se quotidianamente,
E a vida de todos os dias retoma o seu dia...

Depois, lentamente esqueceste.
Só és lembrado em duas datas, aniversariamente:
Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste.
Mais nada, mais nada, absolutamente mais nada.
Duas vezes no ano pensam em ti.
Duas vezes no ano suspiram por ti os que te amaram,
E uma ou outra vez suspiram se por acaso se fala em ti.

Encara-te a frio, e encara a frio o que somos...
Se queres matar-te, mata-te...
Não tenhas escrúpulos morais, receios de inteligência! ...
Que escrúpulos ou receios tem a mecânica da vida?

Que escrúpulos químicos tem o impulso que gera
As seivas, e a circulação do sangue, e o amor?

Que memória dos outros tem o ritmo alegre da vida?
Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem.
Não vês que não tens importância absolutamente nenhuma?

És importante para ti, porque é a ti que te sentes.
És tudo para ti, porque para ti és o universo,
E o próprio universo e os outros
Satélites da tua subjetividade objetiva.
És importante para ti porque só tu és importante para ti.
E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?

Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido?
Mas o que é conhecido? O que é que tu conheces,
Para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial?

Tens, como Falstaff, o amor gorduroso da vida?
Se assim a amas materialmente, ama-a ainda mais materialmente,
Torna-te parte carnal da terra e das coisas!
Dispersa-te, sistema físico-químico
De células noturnamente conscientes
Pela noturna consciência da inconsciência dos corpos,
Pelo grande cobertor não-cobrindo-nada das aparências,
Pela relva e a erva da proliferação dos seres,
Pela névoa atômica das coisas,
Pelas paredes turbihonantes
Do vácuo dinâmico do mundo...


(Fernando Pessoa)

- Hoje eu tou sozinha.

Hoje eu tô sozinha
E tudo parece ser maior
Mas é melhor ficar sozinha
Que é prá não ficar pior.

E já que eu tô só
Não sei se me levo
Ou se me acompanho
Mas é que se eu perder
Eu perco sozinha
Se eu ganhar
Aí é só eu que ganho.

(Ana Carolina)

domingo, 21 de dezembro de 2008

sábado, 20 de dezembro de 2008

- Sem Título 2

Um Poema é uma procissão de versos
Uma caminhada sem rumo de pés descalços
Com andor pesado por sobre os ombros
Rumo a uma Igreja que não há.


Cada palavra é uma reza.
Cada poeta, um deus.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

- Gosto.

Faz tanto tempo que não sei o gosto que tenho.
Minha lingua não alcança meus sonhos,
e faz muito,
muito tempo que ninguém lambe minha'lma
para me dizer o que é que a lingua diz.

- Flor de Enterro.


Ó bromélia acesa,
toda cheia de si,
com gosto de nova e
cheiro tão nobre,
pensando assim
em mim,
ó cravo
tão bem fincado
neste vaso afastado
de um futuro comum.

Flor de enterro,
Flor sem par.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

- Casulo Quebrado.

Acho que este Natal vai ser melhor.
Vou passar sozinho, claro,
mas não no sentido literal,
porque terão parentes aqui,
mas passarei sozinho dentro de mim.

Todos os meus sonhos estão se encaminhando
pra sonhos de outras pessoas.
Todas aquelas possibilidades estão se tornando
pedaços bonitos do passado.
Todas aquelas pessoas de longe estão assumindo,
por elas ou por mim, bons amigos pra todo o sempre.

Estão virando os 'poderia ter sido'.

Acho que faz uns cinco anos que eu não começo o ano sem perspectivas sentimentais.
Acho que isso é bom.
Acho que é o que deve ser.
Acho que assim que será.

Espero que tudo que acontecer,
seja melhor pra todo mundo.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

- Sem Título 1

Em um dia de faxina em casa
Minha mãe disse

- Eu posso ter a liberdade de por o pé no chão?

E eu,
não respondi.
É triste, mãe,
Mas nossas liberdades não vão muito alem disso.

domingo, 14 de dezembro de 2008

- From UK, From nowhere.






















Ontem, eu não queria sair de casa. Mas acabei saindo. Fui num bar, próximo da minha casa, e fiquei um tempo conversando com umas amigas, e depois decidi ir até uma boate, do outro lado da cidade. Não sabia que tipo de festa iria acontecer lá, então fui, mesmo sem a 'balada' ser meu programa predileto.

Chegando lá, vi o que já havia visto antes, mas nunca em tamanha profusão. Era o tal do 'From UK'. Em todos os lados, garotos de 14, 15, 16 anos, vestido como se estivessem em um catalogo de moda literal. Todos competiam em franjas, calças coladas, calças brilhantes, maquilagem, camiseta old-school. Todos iguais. Todos conversando sobre como os outros estavam vestidos. Sobre onde comprar drogas. Sobre o que eles já haviam tomado. Sobre como tal pessoa é cafona. 'Aloka'. 'Arrazou'. Trejeitos copiados. Trejeitos plastificados.

Me senti enojado. Cada um faz o que quiser da sua vida, claro. Mas eu vi uma geração inteira, sem perspectiva. Vi uma geração inteira. Perdida no plástico. Até quando dura o conto de fadas, meu jovem? Até quando você pode brincar de ser o que ninguém é? Cai na real, garoto. Tu não é igual aos outros. Tu não é igual a ninguém.


Essa geração tá é fodida.

sábado, 13 de dezembro de 2008

- Questão 2

Li seu perfil, agora acho que te conheço mais um pouco *-*
Você é bem melhor do que eu pensava ( e olhe que pensei super bem viu )
dhduahduiahduiahduiahdauh
Como alguém igual a você ainda ta sozinho???

(Scrap deixado a poucos minutos, no meu orkut)

- Balada?

















Vejo as coisas de uma forma diferente.

Pra você, é aquilo tudo ali.

Pra mim,
é luz, que pisca, oscila, ofusca,
é fumaça de gelo seco, é fumaça de cigarro,
é gente que não se conhece,
é gente que não quer se conhecer,
e é assim, porque com música alta não dá pra conhecer ninguém.
só dá pra ver a casca,
porque o recheio (quem o tem)
deixa em casa.

Pra mim é assim.
Estar lá,
é só outra forma de estar sozinho.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

- Questão 1



pergunta:
quando acabam as lágrimas, o que sai? a alma?

- Ônibus pra casa

Me sinto como um terminal de ônibus.

As pessoas vêm.

Contam suas mágoas,
lambem suas feridas,
usam o banheiro,
comem alguma coisa,
ligam pra família,
e ficam alí,
pra se protejer da chuva,
pra se protejer dos outros,
porque não tem nada melhor,
porque é aquilo que tem pra noite.


E depois,
entram no primeiro coletivo enfeitado.

E me deixam pra trás.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Noite Sólida




A noite era quente, quase sólida. O ar pesado que entrava pela janela entreaberta do único quarto da casa não deixava João dormir direito.


Na verdade, o que o impedia de dormir era a ausência. Era como um buraco aberto em seu ventre, que por nada havia sido ocupado desde então. Desde que ao seu lado, nada mais dormia.

Naquela noite, a ausência estava acesa. João se sentou na lateral da cama, sem abrir os olhos, apalpou a mesinha de cabeceira até encontrar seus cigarros e seu isqueiro. Ele se levantou, andou através do pequeno cômodo, passou pela sala e chegou até a janela, que se deixava invadir por um bafo quente.

Parado, e com os olhos verdes fixados em um letreiro luminoso que piscava em laranja e azul em um prédio próximo ao seu, ele pensava em tudo que havia sonhado para aquela noite.

Apoiando uma mão no batente da janela e com o cigarro apagado na outra, João imitava no ar todos os gestos que lembrara, ainda no primeiro dia de enconto com a perda. Lembros das cartas, das juras, dos afagos atrás da orelha, de tudo. De cada segundo. Após uns poucos minutos de uma intrincada e deprimente encenação, ele jogou o cigarro pela janela, ajeitou a camisa regata branca que vestia e cambaleou em direção ao quarto.

Quando passou em frente a um pequeno espelho que ficava sobre uma mesinha, João se olhou, mas não se viu. Viu metade de seu rosto arrancado, e na outra metade, viu alguem quem não reconhecera mais.

Pensou, "como estes anos me levaram embora de mim", deu mais alguns passos, se atirou na cama, e rezou baixo para pegar logo no sono. Ele precisava dormir.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Prelúdio

Um recomeço.
O outro blog havia meio que perdido o sentido,
a essencia.
Este também perderá um dia,
mas eu preciso tirar de mim estes versos.

As vezes vai ter prosa,
mas não prometo.